23 janeiro 2012

Faz hoje anos ... morte de Rafael Bordalo Pinheiro




Rafael Augusto Bordalo Prostes Pinheiro, desenhador e ceramista português, nasceu a 21 de Março de 1846, em Lisboa, e morreu, nesta mesma cidade, aos 58 anos a 23 de Janeiro de 1905


Rafael Bordalo Pinheiro destacou-se pela modernidade militante, pelo optimismo visceral e pela tranquilidade com que sempre viveu a sua agitada e nada fácil vida.

No entanto, ele é saudavelmente um desiludido com as pessoas – que, para ele,  todas são corruptíveis – e, sobretudo, com as instituições que, mesmo depois das reformas, regressam ao mesmo: arrogância e ignorância. 

A História é um palco em que a intriga é sempre a mesma. Delineia-a como comédia e farsa, não como tragédia. Usa o riso para provocar e agredir mas não para curar o que não tem cura.

Entende o atraso do país, a sua sebastiana megalomania, a sua preguiça e trafulhice e está sinceramente convencido que não tem cura. Descrê do Rotativismo monárquico (cujos podres conheceu como ninguém) mas não é grande entusiasta da República.

Este é o contexto da criação do Zé Povinho, esperto e matreiro, sem moral nenhuma: se pudesse trepava para as costas dos que o cavalam a ele. Não gosta de trabalhar e prefere resignar-se do que a combater. O manguito é o seu gesto filosófico perante os desacertos do mundo. Rindo ou gesticulando em descaramentos, intervém ora vitimizando-se e submetendo-se, ora como alerta de consciências não libertas de preconceitos. Entre a boémia e o laicismo, a actualidade do Zé Povinho não se esgota naquilo que configura a sua personalidade popular, pelo contrário transborda da tipificação para a excelência do pretexto que aponta ao comentário e à critica. Não poupando nada, nem ninguém, não se contém em sarcasmos perante os factos políticos sociais e institucionais. A sua intervenção opinativa na vida do país revela-se miticamente como reflexo de desejos, sentimentos e necessidades que se descobrem pela praxis. Controversa e metafórica, a figura do Zé Povinho cresce na ambiguidade que se joga entre o cinismo social e a revolta genuína. Decorre da impotência que se denuncia no manguito e que exorciza com a sabedoria popular o acto de cruzar os braços. 




Esta descrença não foi para Rafael Bordalo Pinheiro um estado de alma, antes uma espécie de filosofia social, ancorada na ciência do seu tempo dominada pelas teorias de Darwin e a morte de Deus. 

Homem do seu tempo, apaixonado pelo progresso técnico deixa-se envolver pelos projectos do mano empresário e embarca na aventura de fazer uma fábrica para renovar as artes populares do barro. 

Saliente-se a modernidade do projecto implantado numa pequena cidade de província, as Caldas da Rainha, e sonhando alimentar-se da alma e das técnicas de oleiros tradicionais. Mas, simultaneamente, propor-lhes outra coisa, mais urbana e mais erudita, a louça por si desenhada que é um misto de revivalismo romântico (pesado e barroquizante como a Jarra Bethoven) e de citações Arte Nova que então se afirmava em toda a Europa.

Não era ele o único artista do seu tempo que amava o povo e o conhecia. Mas talvez tenha sido o único que fez arte com ele (tipógrafos ou barristas), e considerou a arte não uma entidade transcendental mas um trabalho capaz de intervir social e economicamente.

 Raquel Henriques da Silva
http://www.museubordalopinheiro.pt/index.html


Em 1916, foi inaugurado, em Lisboa, o Museu Bordalo Pinheiro, dedicado à vida e obra deste artista.





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