29 março 2012

Faleceu Millôr Fernandes

Faleceu, no Rio de Janeiro, com 88 anos, Millôr Fernandes. Millôr Fernandes foi jornalista, escritor, dramaturgo, tradutor e cartoonista, mas, acima de tudo, era um humorista que marcou a cultura brasileira.



Millôr Fernandes (Wilton Junior/AE)


Ficou conhecido pelo humor com fortes críticas à política e por ser um artista com diversos talentos, autodidacta na escrita, no desenho e na dramaturgia. O escritor, que nunca deixou de expressar as suas opiniões, o seu humor afiado e as suas críticas políticas, pronunciou-se contra o acordo ortográfico da língua portuguesa.

                                         Fonte: Edição online do jornal SOL (http://sol.sapo.pt/inicio/Cultura/Interior.aspx?content_id=45307)



Auto-retrato de Millôr Fernandes



Um dos seus muitos cartoons

Aqui ficam alguns pensamentos do escritor: 

"Chato...Indivíduo que tem mais interesse em nós do que nós temos nele".

"Com muita sabedoria, estudando muito, pensando muito, procurando compreender tudo e todos, um homem consegue, depois de mais ou menos quarenta anos de vida, aprender a ficar calado".

"É muito fácil viver com pouco desde que a pessoa não gaste muito para ocultar que tem pouco".

 Um poema do escritor, como que em jeito de despedida ...



Saudação aos que Vão Ficar 

Como será o Brasil 
no ano dois mil? 
As crianças de hoje, 
já velhinhas então, 
lembrarão com saudade 
deste antigo país, 
desta velha cidade? 
Que emoção, que saudade, 
terá a juventude, 
acabada a gravidade? 
Respeitarão os papais 
cheios de mocidade? 
Que diferença haverá 
entre o avô e o neto? 
Que novas relações e enganos 
inventarão entre si 
os seres desumanos? 
Que lei impedirá, 
libertada a molécula 
que o homem, cheio de ardor, 
atravesse paredes, 
buscando seu amor? 
Que lei de tráfego impedirá um inquilino 
- ante o lugar que vence - 
de voar para lugar distante 
na casa que não lhe pertence? 
Haverá mais lágrimas 
ou mais sorrisos? 
Mais loucura ou mais juízo? 
E o que será loucura? E o que será juízo? 
A propriedade, será um roubo? 
O roubo, o que será? 
Poderemos crescer todos bonitos? 
E o belo não passará então a ser feiura? 
Haverá entre os povos uma proibição 
de criar pessoas com mais de um metro e oitenta? 
Mas a Rússia (vá lá, os Estados Unidos) 
não farão às ocultas, homens especiais 
que, de repente, 
possam duplicar o próprio tamanho? 
Quem morará no Brasil, 
no ano dois mil? 
Que pensará o imbecil 
no ano dois mil? 
Haverá imbecis? 
Militares ou civis? 
Que restará a sonhar 
para o ano três mil 
ao ano dois mil? 

Millôr Fernandes, in "Pif-Paf"

Descanse em paz!




"O humorista é o último dos homens, um ser à parte, um tipo que não é chamado para congressos, não é eleito para academias, não está alistado entre os cidadãos úteis da República. (…) Assim, o humorista tem de ser mais infeliz que outros artistas, porque não pode aceitar o louvor precário que lhe oferece a falível humanidade que critica. No momento em que o aceita e passa a se julgar com direito a ele, já perdeu substância como humorista.”

Millôr Fernandes

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