Gravura representando o regicídio, por Rocha Martins. Nesta visão do acontecimento, o «landau» dá entrada na Rua do Arsenal, já com D. Carlos e D. Luiz Felipe tombados, enquanto Alfredo Costa (à direita, em primeiro plano) e Manuel Buiça (à esquerda, ao fundo, sofrendo uma espadeirada) são abatidos pela polícia e pela escolta que acompanhava o cortejo das carruagens. 01 FEV. 1908. - (Fundação Mário Soares)
D. Luís Filipe |
O rei D. Carlos I, sua mulher D. Amélia e o príncipe herdeiro D. Luís Filipe regressaram de comboio de Vila Viçosa. Quando a carruagem real estava perto da curva para a entrada da Rua do Arsenal, "um homem de barba preta [Manuel Buiça] com um grande gabão", vindo pela retaguarda e afastando as abas do capote, agarrou na carabina que transportava, apontou e descarregou o primeiro tiro, que acertou no pescoço de D. Carlos, matando-o. Apontou e descarregou de novo, atingindo desta feita o rei no ombro. Enquanto isto, vindo das arcadas, Alfredo Costa, armado com uma pistola, avança para a carruagem real. Subindo para o estribo, dispara quase à queima-roupa sobre o rei. D. Luís Filipe levanta-se, de revólver em punho, mas antes de poder disparar, Costa atinge-o no peito. A rainha, de pé, agita um ramo de flores, gritando "infames, infames!"
Seguiu-se a confusão, com a polícia à espadeirada e a disparar em todas as direcções. D. Manuel diria mais tarde: "começou uma perfeita fuzilada, como n'uma batida às feras!" Ambos os regicidas cairam mortos. Eram cinco e meia da tarde. Também o transeunte João Sabino da Costa, ourives, foi morto pela escolta. A carruagem seguiu, a toda a velocidade, para o Arsenal da Marinha, onde o rei já entrou morto e o príncipe herdeiro agonizante, falecendo pouco depois. O Infante D. Manuel também estava ferido num braço, sem gravidade.
Ainda hoje se desconhecem os contornos exactos da acção que levou à morte do rei e do príncipe herdeiro, avultando as conjecturas que pretendem implicar outros diversos participantes ou que entendem que o verdadeiro alvo do atentado seria o ditador João Franco. Mas o certo é que não foram encontrados até hoje os processos judiciais organizado após o regicídio, cuja instrução foi cometida pelo Paço, sucessivamente, a três juízes de Instrução Criminal, que prenderam numerosos "suspeitos" e lançaram múltiplas acusações. Sem qualquer resultado...
Como afirmou o último chefe do governo da monarquia, Teixeira de Sousa, que ao tempo era director da Alfândega e tudo presenciou da janela do seu gabinete no Ministério da Fazenda, "Eu assisti ao desenrolar do regicídio e vi, inequivocamente, que os que haviam disparado contra a carruagem real haviam sido ali mortos. Os regicidas caíram no Terreiro do Paço."
A situação do país nas vésperas do regicídio era fortemente marcada pela ditadura do governo de João Franco e os seus "constantes atropelos à lei fundamental". É nesse contexto que muitas notícias da época revelam a frieza com que foi acolhida a morte do rei, abandonado pelos seus, ninguém parecendo especialmente comovido. "Os fidalgos, os pares do reino, os conselheiros, estavam todos enfiados em casa, a tremer de medo." O próprio funeral de Estado, cheio de pompa, decorreu friamente. Do outro lado "o clamor vitorioso de vindicta, que se ergueu do coração do Povo" (in História do Regimen Republicano em Portugal). Ou como se escrevia na Loja maçónica A Sementeira, uma semana após o regicídio, deplorando embora os acontecimentos daquele dia: "às cinco horas da tarde do dia 1 de Fevereiro corrente, desapareceu o passado".
Com a morte do rei e do príncipe herdeiro, subiu ao trono o infante D. Manuel, trigésimo quinto e último rei de Portugal.
D, Manuel II |
Alguns vídeos sobre o regicídio de 1908.
Um excerto da série da Rádio Televisão Portuguesa "O Dia do Regicídio".
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